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Plantio de sorgo: confira dicas para aumentar produtividade

Agrônomo tira dúvidas sobre sorgo e dá dicas para aumentar produtividade

17, Out de 2022
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Depois de estudar a cultura por dois anos, agrônomo e produtor Diogo Versari plantou toda sua área de safrinha com sorgo e chegou à produtividade média de quase 100 sacos/ha

O engenheiro agrônomo e produtor rural Diogo Versari, que tem propriedades nas regiões de Maringá, no Paraná, e Nova Andradina, em Mato Grosso do Sul, concedeu entrevista à Copasul para falar sobre sua experiência com o plantio de sorgo. Há cerca de dois anos que o cooperado vem estudando a cultura para entender como obter a maior produtividade possível com o objetivo de ganhar uma alternativa segura para a safrinha. 

Conforme pontuou em sua entrevista, a opção pelo sorgo na segunda safra se dá por conta de sua resistência à cigarrinha, que trouxe prejuízos às lavouras de milho no último ciclo em várias regiões brasileiras, e também sua rusticidade em relação ao clima. “A cultura do milho safrinha, [...] falando de uma produtividade de uns 125 sacos por hectare, que é uma produtividade muito boa, ela vai exigir em torno de 700 mm de chuva bem distribuídos no ciclo. Quando você pega uma produtividade boa da cultura do sorgo, que é em torno de 100 sacos por hectare, isso vai variar na casa dos 450 a 500 mm de chuva distribuídos durante o ciclo da cultura”, exemplificou. 

Com efeito, o produtor tem apostado no sorgo para a diversificação durante a safrinha. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou no 12º e último levantamento da safra 2021/22 que o Brasil aumentou a área plantada em 19,4%, chegando a 1,03 milhão de hectares, crescendo 14,6% em produtividade, colhendo 2.763 quilos por hectare em média, o que resultou num total de 2,85 milhões de toneladas produzidas, um acréscimo de 36,9%. Todos os números têm como referência a comparação com a safra 2020/21. 

A seguir, confira a conversa completa com o engenheiro agrônomo Diogo Versari, produtor rural cooperado da Copasul. 

Em sua opinião, por que muitos produtores estão substituindo ou pensando em substituir o milho safrinha pelo sorgo?

Diogo Versari: Eu acredito que em algumas regiões do Brasil, muito em decorrência de questões climáticas, você tem que optar por alguma cultura que vai se encaixar melhor na classificação climática que o produtor se encontra. Quando a gente fala do Sul, vamos falar do Rio Grande do Sul, de na safrinha, ou seja, no inverno, você ter melhores condições de chuva até comparado com Bahia, que é outro extremo. Mas quando a gente pega essa região de Nova Andradina, em Mato Grosso do Sul, eu acredito que seja uma região de transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado. Eu acho muito arriscado você colocar na sua safrinha uma cultura que exige muito da disponibilidade hídrica, que é o que comumente é utilizado pelos produtores com a cultura do milho. 

Se você pega em termos numéricos, a cultura do milho safrinha exige, para uma produtividade boa, falando de uma produtividade de uns 125 sacos por hectare, que é uma produtividade muito boa, ela vai exigir em torno de 700 mm de chuva bem distribuídos no ciclo. Quando você pega uma produtividade boa da cultura do sorgo, que é em torno de 100 sacos por hectare, isso vai variar na casa dos 450 a 500 mm de chuva distribuídos durante o ciclo da cultura. E essa diferença eu acho que é muito significativa para a região em que a gente está. É uma região em que em alguns anos chove muito bem na safrinha, só que em alguns anos não chove. Então eu acho que por conta dessa melhora de preço da cultura do sorgo e por conta de uma necessidade menor de água, eu acho que a cultura do sorgo vai entrar com muita força nessa região de Mato Grosso do Sul e até nos estados do Sul. O Paraná já vai migrar uma boa parte para a cultura do sorgo. Por exemplo, nos plantios de milho segunda safra mais tardios, eles vão mudar.

Como foi a sua tomada de decisão para optar pelo sorgo na safrinha?

Versari: Eu fiquei aproximadamente dois anos estudando um pouco a cultura do sorgo, entendendo um pouco mais, vendo quais são as dificuldades da cultura. E os pontos fortes e fracos para você implementar a cultura na sua área. Os dois pilares que fizeram com que eu optasse pela cultura do sorgo é principalmente a questão de disponibilidade hídrica, que principalmente aqui na região de Mato Grosso do Sul eu acho que é muito forte, e por conta também de uma questão que virou uma dor de cabeça para o produtor, principalmente nesse ano, que foi a questão da cigarrinha. Então como a cultura do sorgo não sofre ataque por conta da cigarrinha, são dois aspectos muito importantes para a tomada de decisão de qual cultura você vai implementar na sua área. Por decorrência de essa ser uma região que tem um histórico de ter veranicos na safrinha, e por conta também da alta incidência de cigarrinha, eu fiz essa opção por plantar 100% da área de sorgo. 

Qual foi o seu resultado em termos de produtividade finalizando esta primeira colheita de sorgo?

Versari: A gente teve produtividade de ensaios superando 120 sacos por hectare. Isso em ensaio. Teve um talhão de acima de aproximadamente 144 hectares produzindo 112 sacos por hectare. E a produtividade geral vai chegar perto dos 100 sacos por hectare. Foram 98 sacos por hectare, para ser mais preciso. 

Que dicas você pode dar para quem está neste processo de tomada de decisão pelo sorgo na safrinha? 

Versari: Eu acho que uma coisa muito interessante, que é uma conta que o produtor precisa fazer, é com relação a custo de semente e custo de fertilizante. Hoje a gente sabe que o custo dos fertilizantes está muito alto. Claro que em decorrência do momento que a gente vive. Mas eu acredito que um dos limitantes também da produtividade no milho aqui para a nossa região, claro, são duas questões muito fortes, que é a disponibilidade hídrica que às vezes falta um pouco de água e a questão da cigarrinha que está muito forte. 

A parte de adubação da cultura da segunda safra eu acho que é um ponto que tem que se melhorar. E com relação a esse aspecto de semente e adubação, o meu posicionamento esse ano foi o seguinte: eu fiz uma estimativa de quanto eu teria de custo se eu tivesse feito um plantio de milho segunda safra, milho solteiro, entre custo de semente e custo de fertilizante. Se eu tomasse como ponto de partida a mesma adubação de base tanto para o sorgo quanto para o milho, a única coisa que eu fiz foi pegar a diferença entre custo de semente do milho e custo de semente do sorgo - claro, o custo de semente de milho por hectare é bem superior ao custo do sorgo. Então essa diferença eu passei para o fertilizante nitrogenado. E eu acho que foi aí que eu tive uma resposta muito boa na questão da produtividade. 

Então, tomando como parâmetro a cultura do milho, a única coisa que eu fiz foi pegar a diferença entre custo de semente do milho e custo de semente do sorgo e eu transferi essa diferença para a adubação nitrogenada. Assim, eu vou melhorar o meu sistema, vou acrescentar mais nutrientes e vou ter uma rentabilidade maior, com uma segurança muito maior de produtividade. 

Qual foi o seu custo de produção?

Versari: Eu tenho todos os dados anotados de custo de produção. Eu faço por um aplicativo de Excel. [...] Falando em alqueire, que eu vou transformar aqui para hectare, é em torno de 115 sacas de sorgo por alqueire (próximo dos 47,5 sacos por hectare) para pagar o custo de produção com essa produtividade que eu obtive.

Diogo Versari, engenheiro agrônomo e produtor cooperado da Copasul

Resistência à cigarrinha e menor necessidade de disponibilidade hídrica influenciaram escolha pelo sorgo


Você estudou muito a cultura do sorgo e encontrou diversos pontos positivos. Mas quais são os pontos de atenção que o produtor deve ter em mente para que possa produzir bem? 

Versari: Falando sobre o desenvolvimento da cultura, eu acho que o produtor tem que se atentar muito com relação ao estabelecimento. O sorgo é uma cultura que quando você utiliza um espaçamento entre linhas na plantadeira de 45 cm, que é o que a gente tem utilizado, foi feito o plantio em torno de 12 sementes por metro linear de plantio. Só que a gente viu que no final do ciclo, essas 12 sementes que foram colocadas no solo resultaram em oito a nove plantas finais. Então a questão do estande de plantas vai ter uma aproveitamento em torno de 80% no final do ciclo da cultura. Como a cultura do sorgo praticamente não tem nenhuma tecnologia com relação à proteção contra insetos, ela sofre um pouco com ataque de lagartas. Então, inicialmente, você tem um ataque muito forte de lagarta do cartucho, então tem que fazer um monitoramento. 

Com relação a aplicações de inseticidas voltados para o percevejo, eu utilizei apenas uma aplicação. E a aplicação de percevejo hoje é uma aplicação cara. Falando com outros produtores que plantaram o milho segunda safra, eles tiveram que fazer em torno de três aplicações para percevejo. Eu fiz apenas uma porque o sorgo tem um arranque inicial muito melhor que o milho. Sofre um pouco depois com lagarta nesse começo. E no final do ciclo, ele vai ter um ataque um pouco expressivo de pulgão. Mas quando você faz o comparativo entre o custo de inseticida para controlar percevejo, lagarta e pulgão na cultura do sorgo, é muito menor do que o custo de inseticida para controlar a cigarrinha na cultura do milho. 

E você teve dificuldades pós-porteira do sorgo?

Versari: Uma das maiores dificuldades que eu tive esse ano foi com relação à entrega do produto. Hoje aqui na região de Nova Andradina praticamente são duas empresas que estão recebendo a cultura do sorgo. [...] E a gente teve muito problema com relação à descarga porque não se imaginava que iria ter um volume muito grande de produção de sorgo. Ninguém estava preparado para atender toda essa produção e acabou que atrapalhou com relação à colheita. 

A cultura do sorgo, para colher, você precisa dessecá-la. Normalmente a dessecação é feita com o glifosato e tem algumas peculiaridades que você tem que levar em consideração com relação à dessecação e colheita. Você não pode deixar muito tempo esse material dessecado no campo para colher porque ele perde muito peso. E você tem muita perda na hora da colheita. Você sofre risco de ter algum vento e derrubar a cultura. Então depois da dessecação, você teria perda muito significativa. Então você tem que se planejar com relação à dessecação e à colheita, que vai ser em torno de sete a dez dias mais ou menos. Você não pode deixar passar muito mais que isso porque você acaba reduzindo muito a umidade, tendo perdas muito significativas na colheita e correndo risco também de vir um vendaval e acabar derrubando a lavoura.

Nesse aspecto da colheita, quais as diferenças entre o milho e o sorgo?

Versari: Acima de 99% dos produtores não dessecam porque o milho é uma cultura que não necessita dessecação para colher. O sorgo, por sua vez, não necessariamente você precisa dessecar, mas é muito indicado porque as raízes liberam exsudato que podem causar alelopatia. Isto é, podem causar injúrias na cultura seguinte, que normalmente é a cultura da soja. Então normalmente é feita essa aplicação de herbicida na cultura do sorgo visando a dessecação para você matar a planta, uniformizar a umidade do produto e você não correr riscos dessa alelopatia interferir na produtividade da soja. Então é super recomendada a aplicação de herbicida para dessecação para você evitar esses dois problemas. 

Quais cuidados o produtor deve ter com o manejo sanitário da lavoura de sorgo?

Versari: Com relação às doenças que acometem a cultura do sorgo, nós temos que nos preocupar basicamente com duas doenças aqui na nossa região. Nós temos um problema muito forte na cultura da soja, no início, que é a antracnose, e a mancha alvo. Na cultura do sorgo, no início, é muito comum você ver manchas de antracnose, manchas foliares. Então eu não tive problema com relação a doença na cultura do sorgo muito em decorrências das aplicações com fungicidas que foram feitas. O usual, o mais correto, é que sejam feitas pelo menos duas aplicações com fungicidas na cultura do sorgo. A primeira aplicação é no início do desenvolvimento da cultura, que é visando essas doenças que são ditas como manchas foliares. A principal delas na cultura do sorgo é a antracnose. Com relação à segunda aplicação, normalmente é feita durante a formação dos grãos, justamente para reduzir os efeitos da ergot, que comumente é chamada de mela

Caso você não faça essa segunda aplicação e a cultura durante o florescimento passe por períodos de baixas temperaturas, é muito provável que você vá ter problema com a mela. Então é muito importante fazer associação de dois fungicidas nessas duas aplicações. Você faz uma aplicação com algum fungicida visando o controle de antracnose, associando com multissítio protetor, que no meu caso foi utilizado o Mancozeb. Na segunda aplicação, você pode utilizar fungicidas até um pouco mais em conta, mas não pode deixar de utilizar um fungicida protetor erradicante, que no meu caso foi o Mancozeb. 

O sorgo sofre com a compactação do solo?

Versari: Isso até foi muito interessante, é um dado muito interessante. Na fazenda tinha uma estrada antiga em uma área de reabertura, ou seja, a gente está iniciando de novo um sistema que já era plantio direto, mas por conta da má fertilidade do solo, por conta da compactação excessiva, foi uma área que passou por processo de calagem, gessagem, fosfatagem e correção com micronutrientes. E mesmo depois de todas as operações com gradagem, com subsolador, era visível uma faixa onde tinha uma estrada antiga, que era uma faixa um pouco mais compactada, que a cultura não desenvolveu. Ela fica num porte muito baixo e ela não desenvolve. Então é extremamente recomendado o produtor fazer a avaliação do estado de compactação da lavoura para saber se ele vai intervir ou não, seja com o uso de plantas de cobertura para tentar melhorar um pouco essa questão da compactação ou até descompactação mecânica, que seriam os descompactadores. 

A cultura do sorgo precisa de maquinários específicos?

Versari: Hoje em dia você encontra praticamente dois tipos de plataforma para colheita das culturas em geral. Você tem um uma plataforma que é visando a colheita de soja e uma plataforma visando a colheita do milho. Normalmente o produtor que faz, por exemplo, plantio de girassol faz colheita com plataforma de milho. No caso do sorgo, é comum utilizar a plataforma de soja. Acontece que a panícula do sorgo, diferentemente do milho, não tem uma palha que protege os grãos da panícula. Então quando você passa com a plataforma de soja, há uma perda muito significativa na hora da entrada do produto na máquina. Uma das formas que o produtor pode diminuir essas perdas é a utilização de plataformas do tipo draper, porém o custo dessas plataformas ainda é um pouco inacessível. Mas é uma maneira muito eficaz para diminuir essa questão de perdas na colheita. 

Recentemente a Copasul anunciou que vai receber exclusivamente o sorgo na safrinha 2023 nas unidades Silos Caiuá, em Naviraí, e Silos Batayporã. Essa informação de alguma forma tem impacto na sua decisão por continuar plantando sorgo segunda safra?

Versari: A minha perspectiva é continuar. Não sei até quando, mas nos próximos anos a tendência é de continuar com 100% da área cultivada na segunda safra com o sorgo. A Copasul, tendo essa disponibilidade de recebimento da cultura do sorgo aqui na região, eu acredito que vai além de influenciar os produtores a plantar na cultura do sorgo, eu acredito que vai tornar a cultura do sorgo muito competitiva no mercado com relação à cultura do milho. Nos estados de Minas, Goiás e a Bahia também, que são os estados que mais produzem sorgo no Brasil no quesito produtividade, hoje se fala na comparação de um para um, em que o preço do sorgo e do milho se equiparam. Ou até o preço do sorgo sendo superior ao preço do milho. Eu nunca estive nessas regiões para conversar com os produtores e entender o porquê desse preço do sorgo ser tão significativo na região. Mas os relatos dão conta de que muitos confinamentos da região preferem a cultura do sorgo por questão de formulação da ração. Então nesse comparativo entre sorgo e milho, em algumas regiões tem ali o sorgo sendo, numa comparação 1,1 ou 1,2 vezes a mais do que o milho na questão de preço. 

Hoje aqui na região a gente fala algo em torno de 70% a 80% do preço do milho da cultura do sorgo. Então a Copasul, pensando no produtor, entendendo que o produtor precisa adequar uma cultura na área dele que vai atender a demanda da região e também uma cultura que pode proporcionar uma rentabilidade maior ao produtor, eu acredito que vai influenciar muito na decisão se o produtor vai plantar o sorgo ou milho. 

 Copasul vai receber safra de sorgo nas unidades Silos Caiuá, em Naviraí, e Silos BatayporãQuais são hoje os mercados em expansão para o escoamento da cultura do sorgo?

Versari: Hoje se fala muito em sorgo, claro, para produção de ração. Muitos produtores de gado resumem que a pecuária hoje só dá lucro se for em confinamento. Então há uma necessidade muito grande de abastecimento de ração para atender esses confinamentos. E hoje em dia se fala muito também da produção de etanol a partir do sorgo. Então a Copasul, como uma cooperativa que está sempre muito voltada para a parte técnica e preocupada com a rentabilidade do produtor, é de suma importância a abertura desses galpões de armazenamento para recebimento da cultura do sorgo aqui na região para proporcionar um incentivo além da área de plantio do sorgo, como também impulsionar os preços do sorgo aqui na região. 

Ainda falando no aproveitamento do sorgo pela pecuária, a rebrota do sorgo pode servir de alimento para o gado? E é possível fazer integração a partir do sorgo com braquiária?

Versari: Sim, hoje em dia tem essa possibilidade. Caso o produtor não queira dessecar a cultura do sorgo para fazer a colheita, ele tem a possibilidade de colher a cultura do sorgo sem fazer a dessecação, visando a rebrota do material para colocar o gado na área. É muito comum a gente ver hoje um sistema milho x braquiária visando esse sistema de integração, em que você colhe o milho, fica a braquiária e o produtor entra com o gado em cima da braquiária. Isso também é possível no sorgo. Você faz a colheita do sorgo sem a dessecação visando a rebrota. E assim que o sorgo rebrotar você entra com o manejo animal. 

Mas uma das dificuldades do sorgo é a questão da utilização de herbicidas. A dificuldade maior que a gente vê com relação ao consórcio sorgo e gramínea se deve muito ao poder de competitividade da braquiária com o sorgo. O sorgo é uma cultura que sofre uma interferência muito grande das plantas daninhas. Falando de capim colchão, em áreas que têm alta incidência de capim colchão o sorgo dificilmente vai conseguir trazer bons resultados. Então eu não testei esse ano. Eu fiz sorgo solteiro e não fiz o consórcio sorgo x braquiária. Mas eu vi que em pequenas manchas que tinha capim colchão, o sorgo não se desenvolveu. Então se fala muito hoje em dia dessa questão do consórcio do sorgo com braquiária, mas eu ainda acho que falta muito estudo com relação ao posicionamento dos herbicidas para fazer isso que a gente chama popularmente de travamento da braquiária para deixar o sorgo desenvolver sem que haja essa competição. 

Como você faz o manejo de plantas daninhas no sorgo?

Versari: Eu acho que é muito importante o produtor saber com relação ao manejo de plantas daninhas na cultura do sorgo. A gente sabe hoje que o milho tem resistência ao glifosato, muitos materiais de milho hoje vêm com essa tecnologia de resistência ao herbicida glifosato. Porém a cultura do sorgo não. Alguns materiais de sorgo têm uma tecnologia com resistência aos herbicidas da classe dos imidazolinonas, que você pode aplicar imazapic, imazethapyr na cultura do sorgo. Algumas outras empresas conseguem colocar na semente de sorgo um safener, que é um protetor da semente que permite a aplicação de herbicidas como S-metolachlor, que popularmente é conhecido como Dual Gold, logo após o plantio visando a não emergência de plantas daninhas no desenvolvimento inicial da cultura. 

Porém o sorgo hoje não tem resistência ao glifosato, muito em decorrência do sorgo selvagem. Quando você compra um saco de semente de sorgo tem uma pequena porcentagem de Sorghum halepense que vem. E como é uma planta de um porte muito alto, caso esse Sorghum halepense adquira essa resistência ao glifosato por conseguir fazer o cruzamento com o sorgo comercial, seria uma planta de muito difícil controle nas culturas seguintes, como soja, por exemplo. Então praticamente é nula a chance de o sorgo ter essa resistência ao glifosato. Porém, hoje se sabe que tem essas duas tecnologias que podem ser utilizadas na cultura do sorgo. Tanto cultivares que têm resistência ou tolerância aos herbicidas da classe imidazolinonas, tanto sementes que venham tratadas com esse safener. Caso você não tenha nenhuma dessas duas possibilidades, basicamente em pós-emergência da cultura do sorgo só sobra a atrazina. 

Porém, uma vantagem da utilização da atrazina na cultura do sorgo é a baixa incidência de plantas daninhas, principalmente plantas daninhas de difícil controle. Como a cultura do sorgo tem essa característica de alelopatia, ou seja, ela dificulta a emergência de outras plantas que estão ali no banco de sementes do solo, a atrazina segura muito a questão de plantas daninhas de difícil controle, como a buva. Então é muito interessante a questão de como fica limpa a área para o plantio de soja. Hoje se fala muito no custo de dessecação para você iniciar o plantio da cultura da soja. Dependendo de aplicações sequenciais, você fala hoje em torno de R$ 1.200,00 por alqueire em herbicidas (aproximadamente R$ 495 por hectare). Isso é um custo muito alto. É um custo que vai ser em torno de sete ou oito sacas de soja por alqueire (até 3,3 sacas por hectare) apenas com dessecação por conta da alta incidência de plantas daninhas de difícil controle, que é mais comum visando o controle de buva. Na cultura de sorgo ali na área, inclusive agora eu vou fazer as aplicações. Eu vou fazer apenas uma aplicação com glifosato porque eu não tenho planta daninha emergindo na área. A única planta que está emergindo na área é o sorgo que caiu da colhedora e nasceu. 

Então o sorgo é uma cultura que com o decorrer dos anos tende a deixar uma área limpa. Assim, a economia com herbicida é algo muito positivo, fazendo essa comparação com a cultura do milho. [...] Quando você faz esse custo voltado para a cultura do milho, seria algo em torno de 15 a 20 sacos de milho por alqueire (8,2 sacos por hectares) apenas com herbicidas. 

Você acredita que o programa Construindo Solos, da Copasul, pode ajudar o produtor a alcançar uma produtividade maior com o sorgo?

Versari: Falando um pouco dessa parte do Construindo Solos, que é um programa muito interessante da Copasul, todos os produtores deveriam conhecer um pouco mais. A cultura do sorgo é uma cultura que possui uma matéria orgânica com uma relação carbono e nitrogênio significativamente alta. Isso faz com que, no decorrer dos anos, você tenha um aumento da matéria orgânica em decorrência dessa alta relação C e N. Além disso, as raízes da cultura do sorgo crescem em torno de duas a três vezes mais do que a cultura do milho. Então hoje a gente sabe que não só a parte aérea, mas sim a parte que está abaixo da superfície do solo, ou seja, o sistema radicular contribui muito para a formação da matéria orgânica do solo. Hoje a cultura do sorgo proporciona um aumento da matéria orgânica, que é algo que é muito visado pelos produtores, porém é algo muito difícil de se construir. Então trabalhando com uma cultura que tem uma garantia, um seguro com relação a estresse hídrico, você tende a melhorar também o seu ambiente de produção. 

O que você vislumbra para o futuro do sorgo no Brasil?

Versari: É sabido pelo produtor que o milho tem um teto produtivo muito superior ao sorgo. Hoje é comum, não é tão difícil o produtor obter produtividade de 300, 310 sacas de milho por alqueire, ou 125 de milho por hectare. Porém, para a cultura do sorgo isso já é um pouco mais complicado. Eu acredito que existam duas linhas que podem impulsionar o plantio de sorgo no Brasil. Com relação ao material, exploração do potencial produtivo da cultura do sorgo pelas empresas que trabalham com melhoramento genético. E o impulsionamento do preço do sorgo com relação ao preço do milho em regiões onde o sorgo ainda não é tão plantado. Eu acho que essas duas possibilidades vão fazer com que aumente consideravelmente a área plantada de sorgo. 

Qual sua mensagem para quem ainda não conhece a cultura do sorgo e está decidindo o que plantar na próxima safrinha?

Versari: Eu acho que seria interessante que aquele produtor que ainda não optou pelo plantio do sorgo em decorrência de não conhecer a cultura, por conta de ter um receio de plantar, não saber como fazer o manejo, saber que a Copasul é uma cooperativa altamente técnica, que consegue dar um suporte para ele. Então o produtor não deve ter receio, às vezes, de abrir mão de plantar milho segunda safra em 100% da área. Ele pode optar, sim, por colocar 15% a 25% da área com a cultura do sorgo. Procure os técnicos da Copasul para não ter nenhuma frustração com relação à cultura. O meu recado para os produtores da Copasul é para apostarem um pouco no sorgo, olharem o sorgo não como uma subcultura, olharem ele como uma cultura potencial e tratarem da cultura da mesma forma como é tratado o milho segunda safra. Porque hoje a gente sabe que muitos produtores fazem um investimento às vezes alto no milho segunda safra e quando parte para as chamadas “subculturas”, já não investem tanto no manejo. Eu acredito que se o produtor conseguir fazer um bom manejo na cultura do sorgo, com certeza ele irá aumentar a área de plantio.