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ARTIGO: Com que sonha o campo?

22, Out de 2018
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Em artigo, o ex-ministro da Agricultura, ex-presidente da ACI e da OCB e Embaixador Especial da FAO para as Cooperativas, Roberto Rodrigues, aponta a expectativa do setor rural quanto aos planos do próximo presidente da República para o setor rural. Leia abaixo:

 

COM QUE SONHA O CAMPO? 

Roberto Rodrigues*

 

Muito delicado este momento que antecede o segundo turno das eleições para a Presidência da República e governadores.  Acontecem apoios improváveis e surpreendentes entre derrotados e candidatos, discursos mudam de direção como se as palavras ditas antes do primeiro turno não fossem para valer, compromissos são esquecidos, tudo muito ao sabor de uma política de interesses mesquinhos de partidos ou de seus “donos” se sobrepondo aos nacionais legítimos.

O campo tem sido tratado de forma incompleta nos planos dos candidatos, o que é compreensível até aqui. Mas pelo menos é reconhecido por um deles (do PSL) como o setor que alavanca a economia, seja quanto à significativa participação no PIB e na geração de empregos, seja no saldo comercial externo, seja na modernidade que apresenta.

 

Afinal, o que aspira o agronegócio para transformar o Brasil no campeão mundial da segurança alimentar, gerando riqueza para o país e tranquilidade, emprego e renda para seu povo?

 

O campo quer acima de tudo tranquilidade para seguir produzindo, como ficou explicitado no Plano de Estado encaminhado aos candidatos todos. E o que isso significa? Primeiramente, significa estabilidade econômica com o ajuste fiscal imprescindível que pressupõe as reformas tributária, previdenciária e política.

 

Significa segurança jurídica, com respeito à Constituição e a defesa do direito de propriedade. Segurança jurídica também para que as parcerias público-privadas tragam previsibilidade quanto ao retorno de investimentos em logística, grande gargalo para todos os setores da economia.

 

Significa estabilidade de renda, dentro do conceito já consagrado há décadas nos países desenvolvidos: o seguro rural, os preços de garantia e o crédito não existem lá para proteger o agricultor ou o pecuarista; existem para que estes possam continuar na atividade e garantir segurança alimentar para os consumidores. O seguro rural legítimo, que compense perdas por questões climáticas e de mercado, interessa aos cidadãos urbanos tanto quanto aos do campo. E também ao sistema financeiro, que é urbano: com um seguro funcional todos os bancos quererão emprestar ao campo.

 

Significa abrir mercados através de acordos bilaterais com grandes países consumidores e consolidar os já existentes com uma defesa sanitária respeitada e consistente, significa negociar a agregação de valor aos produtos primários com a redução da escalada tarifária.

 

Significa a promoção da produção rural sustentável, uma vez que sustentabilidade será cada vez mais um fator de competitividade. Isso se faz com uma política única de estado quanto à produção rural e à preservação dos recursos naturais, sem predomínio de um ou de outro, o que é possível com tecnologias também sustentáveis, como a tropical que já temos no Brasil. E sem esquecer que todo produtor rural é preservacionista porque só assim não perderá seu patrimônio. Lembrando que a questão ambiental é tão importante no campo quanto na cidade. Meio ambiente é essencial, mas não pode ser meio de vida para ideólogos sem compromisso com o desenvolvimento equilibrado da Nação, que fazem das multas um programa de desânimo e destruição.

 

Por isso mesmo significa também amplo apoio à inovação tecnológica e à difusão das novas tecnologias para todos os produtores, independente do tamanho, localização e produto cultivado. Assim, o pressuposto é não separar pequenos produtores de médios ou grandes: todos são profissionais do mesmo setor, embora demandem políticas distintas em função da escala de cada um.

 

Significa compreender que hoje a atividade rural deve se dar sob o conceito de sistemas integrados de produção, como proposto nos programas de agricultura de baixo carbono, fator que dará ao Brasil a capacidade de cumprir os compromissos assumidos na COP21 de redução das emissões de gases de efeito estufa. Isso tudo incorpora a necessidade de privilegiar a equidade entre os diversos elos das cadeias produtivas, como fazem as cooperativas de todos os tipos, elementos fundamentais de parceria com governos democráticos de fato, que tenham a justiça como um norte dominante.

 

Significa prestigiar a agroenergia com a implementação do RenovaBio, que pode se transformar em um modelo exemplar para a articulação e a previsibilidade de outras cadeias de produção do agronegócio, e de novo unindo o rural e o urbano na mesma linha de legitimidade de interesses. Significa reduzir desperdícios e perdas, bem como regulamentar o acesso de capital estrangeiro à terra brasileira.

 

Significa, fundamentalmente, deixar o campo trabalhar em paz, com pouca burocracia e intervenção. Com regras claras e a boa fiscalização de seu cumprimento, com compliance dos dois lados, a intervenção não será necessária em nada, e a corrupção será eliminada nas relações público-privadas.

 

E o Brasil encontrará os caminhos de um desenvolvimento formidável e rápido. Tiremos o campo da defensiva doentia imposta por pressões ideológicas. Vamos dar a ele a condição de atacante no mercado global. O resultado será muito mais rápido do que o mais otimista analista pode imaginar: goleada sustentável!(Broadcast Estadão)

 

* Coordena o Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, foi ministro da Agricultura e escreve artigos toda 3ª terça-feira do mês